Audiência Pública debate valorização da vida na Câmara de João Monlevade

por Acom CMJM publicado 02/10/2025 17h16, última modificação 02/10/2025 17h16

A Câmara Municipal de João Monlevade foi palco, nesta terça-feira, 30, de uma audiência pública promovida pela vereadora Maria do Sagrado (PT), com foco no Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e valorização da vida. A audiência reuniu profissionais da saúde, educação, assistência social e segurança pública, além de representantes da sociedade civil.

Maria ressaltou a importância de abordar o tema. “É um assunto delicado, mas é necessário falar sobre ele. O tema da campanha é: ‘Se precisar, peça ajuda’. Falar sobre isso ajuda as pessoas a reconhecerem os sinais e entenderem quando é hora de buscar apoio. Com isso, podemos salvar muitas vidas”.

 

Saúde mental como questão pública

A psiquiatra Rosangela Ribeiro, reforçou que o suicídio é uma questão de saúde pública e que exige ação coletiva. “O suicídio pode ser prevenido. É um papel de todos e também do poder público, que pode treinar os profissionais de saúde e das linhas de frente para identificar sinais de um possível suicida e encaminhá-lo para tratamento”. Além dessas ações, Rosangela relatou que o município oferece o serviço de atenção à crise, dentro do serviço de saúde mental, apoio as famílias enlutadas, e o fortalecimento das políticas públicas, entre outros.

Rosangela lembrou a proposta do vereador Bruno Cabeção, que sugeriu a criação de um grupo de apoio às famílias que perderam seus entes queridos por suicídio. Bruno contou que a proposta surgiu após ser procurado por uma pessoa que passou pela perda de duas pessoas da família e que se sentiam desamparados.

A médica também apresentou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indicam cerca de 700 mil mortes por suicídio por ano no mundo, e destacou que as causas são múltiplas e complexas. Ela reforçou que o apoio começa com informação e lembrou do Centro de Valorização à Vida – CVV, cujo número 188 está disponível 24h para acolhimento emocional.

 

Mitos e verdades sobre saúde mental

A assistente social do Hospital Margarida, Rose Vasconcelos, abordou os mitos que ainda cercam a saúde mental e prejudicam o cuidado com quem sofre. “Há quem diga, por exemplo, que depressão é frescura, é passageiro. Não é. Nestes casos a pessoa precisa de um olhar diferenciado, de uma escuta ativa de quem está do lado. Identificar os sinais é essencial para ajudar”.

Outro mito combatido por Rose é a ideia de que medicamentos psiquiátricos causam dependência. Segundo ela, quando prescritos e acompanhados por profissionais, são eficazes e seguros. Ela ainda destacou práticas importantes para promoção da saúde mental, como a atividade física, uma rede de apoio, cuidados com o sono e alimentação e, principalmente, o combate aos estigmas.

Sobre a realidade hospitalar, Rose lembrou que o Hospital Margarida é uma das principais portas de entrada para casos de tentativa de autoextermínio e que os pacientes são encaminhados para acompanhamento no Sésamo ou Sesamo-IJ.

 

Educação como espaço de proteção

A psicóloga da secretaria de Educação, Cibele Silva, contou que a pasta possui quatro psicólogas e três assistentes sociais. Ela apresentou o programa “De Setembro a setembro”, com atividades durante todo ano. “Acreditamos que é no trabalho diário que agente constrói crianças saudáveis e protegidas e que conhecem seus direitos.”

O programa trata de temas como bullying, discriminação e violência, promove escuta ativa e fortalece a articulação entre escola, famílias, comunidade e rede de proteção. “Preparamos também os profissionais de educação para que a escuta seja cada vez mais sensível, mesmo quando a equipe psicossocial não estiver presente”.

A representante da equipe pedagógica da Secretaria de Educação, Marinete da Silva Morais, reforçou o valor da solidariedade ao citar a tatuadora Teresa Nardelli. “Ninguém solta a mão de ninguém”, disse. “Essa frase foi dita por ela em um momento difícil e serve como lembrete de que ninguém está sozinho. Hoje, em nosso município, contamos com uma rede de atenção que oferece suporte e contribui significativamente para o cuidado com a saúde mental”, destacou Marinete.

 

O papel da Vigilância Sanitária

A enfermeira da Vigilância Sanitária, Mara Geralda Gomes Souza, explicou que a VISA é responsável por receber as notificações de casos de tentativa e suicídio consumados e atua em parceria com a Atenção Básica para reduzir esses casos. Segundo ela, os dados mostram que as tentativas são mais frequentes entre mulheres, enquanto os suicídios consumados ocorrem mais entre homens. “Muitas vezes, os homens têm mais dificuldade em buscar ajuda. É preciso romper esse estigma e reforçar que cuidar da saúde mental é para todos”.

 

O impacto e a dor da superação

A estagiária em psicologia do CREAS, Patrícia Mara Miranda, destacou a importância da sociedade estar atenta uns aos outros, cultivando a empatia, proximidade e acolhimento. “Estamos vivendo uma era em estas questões estão muito fragilizadas. Parece que estamos vivendo no automático. Cinco minutos que você doa para conversar com alguém, faz muita diferença”.

Na oportunidade, a representante do CREAS, Cinthia Carvalho, leu um texto, de sua autoria, intitulado “Alpinista”, baseado em experiências pessoais. O texto relata o sofrimento vivido por ela além dos e pensamentos de desistências, além do processo de superação com apoio da família e amigos.

 

Segurança pública e o enfrentamento do suicídio

A perita criminal, Erika Sthefani Sampaio Justino, compartilhou sua vivência profissional com cenas de suicídio, destacando a tristeza dos ambientes onde ocorrem esses atos e o sofrimento das famílias enlutadas. Ela enfatizou a importância de iniciativas voltadas ao acolhimento dessas famílias e à prevenção do suicídio, lembrando que, muitas vezes, a ajuda não chega a tempo por falta de informação e pelo preconceito que ainda existente em torno da saúde mental. “Suicídio não se trata, se previne, e a prevenção começa com informação.”

 

Ações contínuas

A coordenadora do Sésamo, Eliana Bicalho Ferreira de Almeida, destacou que o cuidado com a saúde mental deve ser constante. Ela lembrou que no último dia 10 de setembro, a prefeitura realizou um Simpósio sobre o assunto e que o evento foi a concretização de um trabalho desenvolvido ao longo do ano. “Este assunto é trabalhado por nós todos os meses. Não podemos concentrar todas as nossas ações de prevenção em apenas um mês”.

Já a secretária de saúde, Raquel Drumond, lamentou que o projeto, sugerido no Simpósio do ano passado, que instituiria a Política Municipal de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio e Automutilação foi rejeitado pela Câmara. Segundo ela, mesmo com a rejeição, os trabalhos voltados ao tema continuam sendo implementados. “Isso não foi empecilho. As ações continuam crescendo e está robusta. Hoje, por exemplo, contamos com psicólogos e assistentes sociais na pasta da Educação, integrados nesta rede de atenção”.

 

Escuta e acolhimento

O psicólogo Vitor Dinalli Ornellas Iglesias, que atua no CAPS IJ e na Faculdade Doctum, destacou que o sofrimento psíquico muitas vezes se manifesta como um sufocamento ou uma sensação de vazio. “Em alguns casos, a pessoa está sufocada e precisa de abertura. Em outros, está imersa no vazio e precisa de apoio para preencher esse espaço com novas possibilidades de vida”, explicou.

Vitor ressaltou o papel da psicologia e das instituições de cuidado na reconstrução de projetos e no acolhimento do sofrimento. “No CAPS IJ e no curso de Psicologia, buscamos oferecer esse suporte, tanto para a comunidade quanto para os estudantes, ajudando cada um a atravessar o sofrimento com apoio e escuta”.

 

Presenças

A audiência pública contou com a participação de:

- Vereadores Sassá Misericórdia e Bruno Cabeção

- Secretária Municipal de Saúde, Raquel de Souza Paiva Drumond

- Secretária Adjunta de Saúde, Simone Borba

- Secretária municipal de Assistência Social, Rita de Cássia da Cruz Souza.

- Médica psiquiatra e presidente do Conselho Curador da Fundação Crê-Ser, Rosangela Guimarães Ribeiro

- Coordenadora do Sésamo, Eliana Bicalho Ferreira de Almeida

- Assistente Social do Hospital Margarida, Rose Vasconcelos Ferreira Araújo

- Enfermeira da Vigilância Sanitária, Mara Geralda Gomes Souza

- Representantes da Secretária de Educação, Cibele Silva, Nair da Silva de Cássia, e Marinete da Silva Morais

- Representante da Polícia Civil, perita criminal Erika Sthefani Sampaio Justino

- Psicólogo Vitor Dinalli Ornellas Iglesias

- Graduanda do curso de psicologia da Doctum e estagiária do Creas Patrícia Mara Miranda

- Representante do CREAS Cintia Carvalho

- Diretora da Faculdade Doctum de João Monlevade, Yolanda Carla Lima Coelho